Missão Divina
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O que é a Folia de Reis

A origem do folguedo

A folia de reis é uma tradição católica italiana, que chegou ao Brasil através dos portugueses espalhando-se por todo o país, em especial na região sudeste, onde podemos encontrar o maior número de grupos em atividade. Seu objetivo é contar, através das profecias, a passagem bíblica que relata a viagem dos Três Reis Magos pelo deserto para encontrar o Menino Jesus que acabara de nascer em Belém.

Com característica totalmente religiosa e católica a folia de reis é bem recebida pela Igreja que reconhece a simbologia do folguedo, no entanto, a manifestação também é acolhida pelas religiões de matrizes africanas como a umbanda e o candomblé.

Em Cachoeiro, os grupos são compostos por doze foliões, sendo: um mestre, que comanda a folia; um contramestre, que é seu braço direito e também quem o substitui; um bandeireiro que vai à frente do cortejo levando a bandeira dos Três Reis Magos; e nove “tocadores” de instrumentos. Cada um dos doze foliões representa um dos apóstolos de Cristo. Nas folias também destaca-se a figura do palhaço, normalmente dois que, segundo a tradição, possuem um significado dúbio, para alguns eles significam os soldados que o Rei Herodes enviou para que matassem os meninos recém nascidos, e para outros significam soldados que se rebelaram e tentavam proteger o Menino Jesus da matança ordenada pelo rei. Para ser palhaço é necessário que se faça uma promessa e que permaneça como tal durante sete anos sob pena de ser confundido com o diabo, amargando sete anos de azar.

Outra característica que enriquece as apresentações dos grupos de folias são os “desafios”. Quando duas folias se encontram durante a jornada, bandeira com bandeira, um mestre desafia o outro. Perde o desafio aquele que não conseguir dar continuidade a uma profecia de forma coerente e com fundamento bíblico. Aquele que perde é obrigado a entregar os instrumentos musicais ao vencedor. Atualmente, em função das relações de compadrio entre os grupos, esse costume quase não é mais seguido, sendo substituído pela troca de ofertas, ou seja, o mestre derrotado dá a oferta que sua bandeira recolheu durante aquela noite:

Encontramos, encontramos,

Nesse canto de alegria.

Encontramos duas bandeiras,

E dois alferes de Folia.

A música

É um dos principais elementos da folia de reis, sendo chamada de toada, é organizada como profecia. As letras são inspiradas em passagens bíblicas como: a anunciação, o nascimento de Jesus, o nascimento de São João Batista e a fuga de Maria e José com Jesus. As toadas cantadas num tom choroso e triste em forma de coro comandado pelo apito do mestre. Os cantos são acompanhados por uma pequena banda que possui os seguintes instrumentos: acordeão, violão, viola, cavaquinho, pandeiro, chocalho, triângulo, caixa e zabumba. As batidas das folias são ricas pela junção das vozes apelativas dos foliões, sendo a principal delas a requinta, que intensifica o tom choroso das toadas prolongando o final dos versos.

Quando a folia chega na casa, ainda do lado de fora do portão, canta uma profecia com o objetivo de acordar a família:

Acordai quem tá dormindo,

Deste sono tão profundo.

Na chegada dos Três Reis,

A vinda do Rei ao mundo.

 

Glória a Deus lá nas alturas,

Paz aos homens aqui na terra.

Estão louvando a Deus,

Até nas mais altas serras.

(Toada da Folia de Reis Missão Divina)

Após acender a luz da casa e abrir sua porta, o dono da casa vem receber os foliões, é nesse momento que a folia lhe oferece sua bandeira:

Vem pegar nossa bandeira,

Vai com ela lá pra dentro.

Nela está Jesus Menino,

E o Santíssimo Sacramento.

 

A bandeira já entrou,

Nós podemos entrar também.

Viemos te trazer as novas,

Jesus nasceu em Belém.

(Toada da Folia de Reis Mensagem Divina)

Entrando na casa, o mestre canta a profecia que vai da anunciação ao nascimento de Jesus:

Vinte e cinco de março que o Anjo anunciou,

Que ia haver Jesus no mundo,

Era o menino salvador.

Foi o Anjo Gabriel que foi embaixador,

Que avisou todos os devotos,

Que existia o Salvador.

 

Maria era pobrezinha,

Morava em Nazaré.

Era filha de Davi,

Criada com poder e fé.

 

Foi vinte e cinco de dezembro,

Da meia noite para o dia.

Nasceu o filho de Deus,

Filho da Virgem Maria.

 

Zacarias pediu a Deus,

Que não desse filho a sua esposa Isabel.

Mas Isabel fez a primeira promessa e recebeu,

Apesar da sua idade, um filho Deus lhe deu.

 

Era aquele João Batista,

Que um dia avisou ao mundo.

Que com grande alegria,

Nessa noite nasceria,

O verdadeiro Messias.

 

São José e a Virgem Maria foram viajar,

Chegaram em Belém para descansar.

São José foi buscar água e ouviu bater o sino,

Quando São José chegou havia nascido o menino.

 

Os Três Reis estavam dormindo,

Naquele sono profundo.

Sonharam que nascia em Belém,

O Rei Salvador do mundo.

 

Foram juntos pra Belém,

Consultaram seu destino.

Souberam que José e Maria,

Fugiram com o menino.

 

Foram andando no deserto,

Foi uma estrela que os guiou.

E em cima de uma cabana,

A estrela pousou.

 

A cabana era pequena,

Não cabia todos três.

Adoraram ao Deus Menino,

Cada um de uma vez.

 

Juntaram todos três,

Abriram seus tesouros.

Ofertaram Deus Menino,

Com mirra, incenso e ouro.

(Toada da Folia de Reis estrela do Mar)

Depois de cantar a profecia da anunciação e do nascimento de Jesus os foliões deverão cantar para os santos de devoção da família que estiverem expostos em sua sala. Terminada a cantoria, o dono da casa oferece uma ceia que é compartilhada por todos. Depois de cear a folia canta uma toda pedido oferta para a bandeira:

A bandeira pede oferta,

Mas não é por precisão.

E para cumprir uma promessa,

Que nós temos obrigação.

 

Vai pegar nossa Bandeira,

Que temos que viajar.

Levamos mensagens divinas,

E não podemos demorar.

(Toada da Folia de Reis Mensagem Divina)

Dada a oferta a folia agradece:

Meu Senhor lhe agradeço,

E Deus lhe dê a benção.

 

Ele há de lhe dar em dobro,

O que vós deu a meus foliões.

 

E agradeço a bela oferta,

Que vós deu a nossa bandeira.

 

O meu Mestre Bandeireiro,

Faça sua obrigação.

 

Pega ela e vai saindo,

Vai chamando os folião.

 

Meu senhor adeus, adeus,

Até quando aqui voltar.

 

Minha Bandeira se foi,

Eu tenho que acompanhar.

(Toada da Folia de Reis Estrela do Luar)

Após esse momento, uma toada de despedida da bandeira da casa é cantada:

A bandeira se despede ai, ai.

A bandeira se despede,

Tão alegre e tão contente,

Tão alegre e tão contente ai, ai.

 

Pelo mundo vai dizendo,

Sua gente ai, ai.

Sua gente ai, ai.

 

Devotos fica com Deus, ai, ai,

Devotos fica com Deus,

Nesta hora de alegria!

Nesta hora de alegria ai, ai.

 

Deus lhe dê felicidade ai, ai,

Deus lhe dê felicidade,

Pro Senhor e a família ai, ai,

Pro senhor e a família ai, ai.

 

Senhor devoto, adeus, adeus ai, ai,

Nessa hora da benção ai, ai,

Se tiver alguém doente ai, ai,

Deus lhe dê a proteção ai, ai.

Despedindo-se da casa a folia continua sua jornada noite a fora.

A Jornada

Assim como os Três Reis Magos saíram de Belém e noticiaram o nascimento de Jesus ao mundo, os foliões anunciam de casa em casa o nascimento de Jesus, através de profecias. Esse movimento é chamado de jornada que tem início à meia noite do dia vinte e quatro de dezembro hora em que, segundo a tradição cristã, a Estrela D’alva foi avistada pelos Reis do Oriente, e encerra-se ao meio dia de seis de janeiro, dia em que os Três Reis do Oriente encontram o menino Jesus em Belém. A maioria das folias de Cachoeiro, a partir do dia seis de janeiro passam a integrar o ciclo de São Sebastião, e continuam sua jornada até o dia vinte de janeiro, dia do santo. Detalhe importante é que a continuidade da jornada é feita de dia, das seis horas da manhã às dezoito horas, sem a presença dos palhaços. Após o término da jornada é feito o arremate, que na maioria das folias de reis não possui data fixa para acontecer, apesar de a tradição estabelecer que seja feito no dia de São Sebastião.

Se durante a jornada uma família não abrir a porta de sua casa, a folia segue batendo marcha para outra casa sem criar problema, entretanto, ressaltam os mestres, não é de bom agouro recusar a benção das folias, a casa que recusa recebê-los passa por sete anos de azar.

Meu senhor dono de casa,

Nós cantamos pra vocês.

Abram o coração e a casa,

Aqui estão os Santos Reis.

 

Meu senhor já estou anunciando,

Conforme Jesus nasceu.

Nasceu numa manjedoura,

Perseguido por um judeu.

 

Os palhaços não podem passar do portão da casa. Agem como guardiões da folia. Se por acaso outra folia chegar, o palhaço vigilante tira a máscara e deita com as pernas e braços cruzados, este é o sinal que não há permissão para entrar, neste caso o mestre que está chegando deve pegar a máscara, entregá-la ao palhaço e pedir licença para entrar, licença esta que só será dada pelo mestre que está dentro da casa, só então os grupos poderão combinar a entrada do grupo que está chegando. Dentro de uma casa, só é permitida a apresentação de uma folia por vez.

Ao encerrar a bênção, a folia pede a bandeira de volta e sai da casa. Nesse momento os palhaços brincam com versos e saltiteios, pedindo esmolas. A cada esmola a brincadeira e os versos são mais animados e descontraídos.

 

A cachaça é feita da cana,

Da cana a cachaça é boa,

Quem bebe a cachaça,

O patrão, o empregado e a patroa.

 

Nego bebe a cachaça, depois fica rindo a toa,

A cachaça só é boa para quem sabe beber,

Bebe o pobre e bebe o rico,

Bebe pra a tristeza esquecer.

 

Adeus cachaça, adeus bebida mardita,

Que rouba a memória do rapaz e depois desacredita,

Fica o homem sem vergonha,

Pensando na jabirita.

 

Quem inventou a cachaça,

Teve uma ideia formosa,

No bebendo ficou tonto,

Viu a lua cor de rosa,

Deu o nome da mardita,

Aguardente milagrosa.

(Versos do Palhaço Preferido, Heberton da Costa)

 

Após esse momento a folia de reis segue sua jornada noite afora buscando outras casas que os recebam.

A maioria dos foliões cumpre a jornada por algum tipo de promessa para os “Santos Reis”, os “Três Reis Magos” que a tradição popular tornou santos.

A indumentária

As roupas utilizadas pelos foliões, chamadas de fardamento, variam de acordo com cada grupo e seus santos de devoção. Tradicionalmente a farda é composta por uma camisa de botão e calça comprida confeccionadas normalmente em cetim. As calças sempre possuem uma faixa lateral de outra cor. Tradicionalmente o fardamento é confeccionado nas cores dos presentes que os reis magos ofereceram a Jesus: amarelo, simbolizando o ouro, azul, simbolizando a mirra, e vermelho simbolizando o incenso.

A roupa do mestre é sempre diferente para que ele possa destacar-se dos demais. Um detalhe importante é que sobre a camisa ele utiliza sempre uma faixa com o nome da folia de reis.

Os palhaços usam roupas sempre espalhafatosas. O tradicional chitão colorido e florido era o tipo de tecido mais utilizado, atualmente o cetim nas cores vermelha e preta também são muito utilizados. Um detalhe importante da roupa do palhaço é a cruz bordada em tecido, uma na parte da frente (sobre o peito) e outra na capa que fica sobre as costas. Elas significam a proteção do grupo contra o mal.

A bandeira é o objeto mais sagrado da folia. Trata-se de um tecido sustentado por uma madeira na vertical e outra na horizontal que vai a frente do grupo. Sobre ela é obrigatória a presença da Sagrada Família. Algumas possuem outros santos de devoção ou fotografias de entes queridos. Normalmente são confeccionadas com cores fortes e adornadas com fitas coloridas e objetos natalinos. É comum que alguns moradores por onde a bandeira passa adicionem a ela algum objeto ou fita em sinal de devoção.

A coroa é uma espécie de chapéu que fica sobre a cabeça dos foliões. São enfeitadas com espelhos, guirlandas, fitas e objetos natalinos bem coloridos. São todas iguais, exceto a do mestre que destaca-se das demais.

A máscara do palhaço da folia de reis é confeccionada de couro de animal, normalmente de bode por ser mais peluda. A intenção da máscara é proteger a identidade do indivíduo que a utiliza e assustar a todos. Algumas possuem chifres e dentes de animais que são adornados por enfeites natalinos.

O cajado do palhaço de folia de reis é produzido a partir da madeira que é retirada do meio do mato. Em sua ponta possui uma escultura grotesca representando o diabo.

O arremate

Após o dia vinte de janeiro, ao fim da jornada, o mestre oferece uma grande festa que é chamada de arremate, que tem como objetivo agradecer a Deus pela jornada, pelo ano de bênçãos e confirmar a promessa dos foliões. Para o arremate são convidados alguns grupos de folias que tem alguma relação de amizade e compadrio com o mestre.

O arremate consiste na entrega da máscara e das roupas do palhaço, das fardas e dos instrumentos dos foliões a Nossa Senhora. Esta entrega é feita em um altar preparado na casa do mestre, local designado como “a morada da bandeira”, este altar é arrumado por uma mulher que cuida da bandeira e do fardamento dos foliões. O local da morada da bandeira também pode ser uma casa de oração, normalmente de religião de matriz africana como a umbanda. Atualmente em função da grande quantidade de visitantes os arremates são realizados em locais públicos como, por exemplo, ginásios de esportes ou mesmo na rua.

Os arremates tradicionais duram um dia inteiro, começando na parte da manhã e encerrando-se a noite. Na parte da manhã o povo da rua começa a se ajuntar ao redor da casa do festeiro, o mestre ou o guardião da bandeira. Por volta do meio dia é servido o almoço para todos os visitantes, entretanto, o almoço dos foliões é servido em uma mesa com 12 lugares, representando a última ceia de Jesus com os apóstolos. Os palhaços comem fora da mesa.

Após o almoço todas as folias visitantes tocam em frente a um presépio improvisado. O arremate acontece em espaços públicos ou em uma casa de oração, frente a um cruzeiro com todos os personagens da Sagrada Família. A última folia a se apresentar é a da casa que faz sua entrega na seguinte ordem:

1º) Os palhaços, um de cada vez se arrastam até o altar (ou cruzeiro) pedindo perdão por seus pecados. Após esse momento, o mestre ao som de todos os instrumentos e cantando toadas que contam o martírio de Jesus passa a bandeira em volta dele por sete vezes. Nesse momento, o palhaço retira sua máscara e suas roupas deixando-as ao pé do cruzeiro. Dessa maneira estão perdoados todos os seus pecados.

2º) Os foliões, um de cada vez, dirigem-se até o cruzeiro, ajoelham-se pedindo perdão por seus pecados. O mestre, ao som dos demais instrumentos, passa a bandeira em volta do folião por sete vezes. Nesse momento o folião deixa seu instrumento e sua farda ao pé do cruzeiro, movimento que é feito por cada folião até que o último instrumento seja deixado ao pé do cruzeiro.

Após as entregas, já desprovidos dos fardamentos e com a missão cumprida os foliões dançam e cantam até a meia noite.

O mestre

Ser mestre de folia de reis é uma missão, um chamado que só deverá ser deixado com a morte. Normalmente esse compromisso é passado de pai para filho ou mesmo a partir de uma promessa feita pelo folião. O mestre é um grande líder, inclusive espiritual. Muitas vezes essa liderança extrapola os limites da folia estendendo-se por toda a comunidade.

Ao mestre cabe a responsabilidade de dirigir o grupo, entoar profecias, desafiar outros mestres, convocar o grupo caso haja convite para apresentação e impor a disciplina. Deve ser um homem de caráter ilibado e ter pulso firme para manter o grupo sem “bagunceiros”. No mestre há de se encontrar além da criatividade, o espírito de liderança que manterá todo o grupo unido. Seus comandos são sempre feitos através de um apito. Em Cachoeiro de Itapemirim, embora algumas mulheres já sejam permitidas nos grupos, ainda nenhuma delas já assumiu as funções de mestra e nem de palhaça.

As informações sobre a folia de reis aqui transcritas nos foram passadas por Areno Francisco dos Santos, mestre da Folia de Reis Mensagem Divina de Jacu, distrito de Burarama, João Inácio (falecido) e Rogério Vieira Machado, mestres da Folia de Reis Estrela do Mar do bairro Zumbi, Wilson Diniz Cecon e Heberton da Costa mestre e palhaço da Folia de Reis Missão Divina de Burarama, José Paulino da Silva, palhaço da Folia de Reis Santa Ana do bairro Zumbi e Romilson da Conceição da Folia de Reis Estrela do Luar do bairro Zumbi.

O que é a Folia de Reis

A folia de reis é uma tradição católica italiana, que chegou ao Brasil através dos portugueses espalhando-se por todo o país, em especial na região sudeste, onde podemos encontrar o maior número de grupos em atividade. Seu objetivo é contar, através das profecias, a passagem bíblica que relata a viagem dos Três Reis Magos pelo deserto para encontrar o Menino Jesus que acabara de nascer em Belém.

Com característica totalmente religiosa e católica a folia de reis é bem recebida pela Igreja que reconhece a simbologia do folguedo, no entanto, a manifestação também é acolhida pelas religiões de matrizes africanas como a umbanda e o candomblé.

Em Cachoeiro, os grupos são compostos por doze foliões, sendo: um mestre, que comanda a folia; um contramestre, que é seu braço direito e também quem o substitui; um bandeireiro que vai à frente do cortejo levando a bandeira dos Três Reis Magos; e nove “tocadores” de instrumentos. Cada um dos doze foliões representa um dos apóstolos de Cristo. Nas folias também destaca-se a figura do palhaço, normalmente dois que, segundo a tradição, possuem um significado dúbio, para alguns eles significam os soldados que o Rei Herodes enviou para que matassem os meninos recém nascidos, e para outros significam soldados que se rebelaram e tentavam proteger o Menino Jesus da matança ordenada pelo rei. Para ser palhaço é necessário que se faça uma promessa e que permaneça como tal durante sete anos sob pena de ser confundido com o diabo, amargando sete anos de azar.

Outra característica que enriquece as apresentações dos grupos de folias são os “desafios”. Quando duas folias se encontram durante a jornada, bandeira com bandeira, um mestre desafia o outro. Perde o desafio aquele que não conseguir dar continuidade a uma profecia de forma coerente e com fundamento bíblico. Aquele que perde é obrigado a entregar os instrumentos musicais ao vencedor. Atualmente, em função das relações de compadrio entre os grupos, esse costume quase não é mais seguido, sendo substituído pela troca de ofertas, ou seja, o mestre derrotado dá a oferta que sua bandeira recolheu durante aquela noite:

Encontramos, encontramos,

Nesse canto de alegria.

Encontramos duas bandeiras,

E dois alferes de Folia.

É um dos principais elementos da folia de reis, sendo chamada de toada, é organizada como profecia. As letras são inspiradas em passagens bíblicas como: a anunciação, o nascimento de Jesus, o nascimento de São João Batista e a fuga de Maria e José com Jesus. As toadas cantadas num tom choroso e triste em forma de coro comandado pelo apito do mestre. Os cantos são acompanhados por uma pequena banda que possui os seguintes instrumentos: acordeão, violão, viola, cavaquinho, pandeiro, chocalho, triângulo, caixa e zabumba. As batidas das folias são ricas pela junção das vozes apelativas dos foliões, sendo a principal delas a requinta, que intensifica o tom choroso das toadas prolongando o final dos versos.

Quando a folia chega na casa, ainda do lado de fora do portão, canta uma profecia com o objetivo de acordar a família:

Acordai quem tá dormindo,

Deste sono tão profundo.

Na chegada dos Três Reis,

A vinda do Rei ao mundo.

 

Glória a Deus lá nas alturas,

Paz aos homens aqui na terra.

Estão louvando a Deus,

Até nas mais altas serras.

(Toada da Folia de Reis Missão Divina)

Após acender a luz da casa e abrir sua porta, o dono da casa vem receber os foliões, é nesse momento que a folia lhe oferece sua bandeira:

Vem pegar nossa bandeira,

Vai com ela lá pra dentro.

Nela está Jesus Menino,

E o Santíssimo Sacramento.

 

A bandeira já entrou,

Nós podemos entrar também.

Viemos te trazer as novas,

Jesus nasceu em Belém.

(Toada da Folia de Reis Mensagem Divina)

Entrando na casa, o mestre canta a profecia que vai da anunciação ao nascimento de Jesus:

Vinte e cinco de março que o Anjo anunciou,

Que ia haver Jesus no mundo,

Era o menino salvador.

Foi o Anjo Gabriel que foi embaixador,

Que avisou todos os devotos,

Que existia o Salvador.

 

Maria era pobrezinha,

Morava em Nazaré.

Era filha de Davi,

Criada com poder e fé.

 

Foi vinte e cinco de dezembro,

Da meia noite para o dia.

Nasceu o filho de Deus,

Filho da Virgem Maria.

 

Zacarias pediu a Deus,

Que não desse filho a sua esposa Isabel.

Mas Isabel fez a primeira promessa e recebeu,

Apesar da sua idade, um filho Deus lhe deu.

 

Era aquele João Batista,

Que um dia avisou ao mundo.

Que com grande alegria,

Nessa noite nasceria,

O verdadeiro Messias.

 

São José e a Virgem Maria foram viajar,

Chegaram em Belém para descansar.

São José foi buscar água e ouviu bater o sino,

Quando São José chegou havia nascido o menino.

 

Os Três Reis estavam dormindo,

Naquele sono profundo.

Sonharam que nascia em Belém,

O Rei Salvador do mundo.

 

Foram juntos pra Belém,

Consultaram seu destino.

Souberam que José e Maria,

Fugiram com o menino.

 

Foram andando no deserto,

Foi uma estrela que os guiou.

E em cima de uma cabana,

A estrela pousou.

 

A cabana era pequena,

Não cabia todos três.

Adoraram ao Deus Menino,

Cada um de uma vez.

 

Juntaram todos três,

Abriram seus tesouros.

Ofertaram Deus Menino,

Com mirra, incenso e ouro.

(Toada da Folia de Reis estrela do Mar)

Depois de cantar a profecia da anunciação e do nascimento de Jesus os foliões deverão cantar para os santos de devoção da família que estiverem expostos em sua sala. Terminada a cantoria, o dono da casa oferece uma ceia que é compartilhada por todos. Depois de cear a folia canta uma toda pedido oferta para a bandeira:

A bandeira pede oferta,

Mas não é por precisão.

E para cumprir uma promessa,

Que nós temos obrigação.

 

Vai pegar nossa Bandeira,

Que temos que viajar.

Levamos mensagens divinas,

E não podemos demorar.

(Toada da Folia de Reis Mensagem Divina)

Dada a oferta a folia agradece:

Meu Senhor lhe agradeço,

E Deus lhe dê a benção.

 

Ele há de lhe dar em dobro,

O que vós deu a meus foliões.

 

E agradeço a bela oferta,

Que vós deu a nossa bandeira.

 

O meu Mestre Bandeireiro,

Faça sua obrigação.

 

Pega ela e vai saindo,

Vai chamando os folião.

 

Meu senhor adeus, adeus,

Até quando aqui voltar.

 

Minha Bandeira se foi,

Eu tenho que acompanhar.

(Toada da Folia de Reis Estrela do Luar)

Após esse momento, uma toada de despedida da bandeira da casa é cantada:

A bandeira se despede ai, ai.

A bandeira se despede,

Tão alegre e tão contente,

Tão alegre e tão contente ai, ai.

 

Pelo mundo vai dizendo,

Sua gente ai, ai.

Sua gente ai, ai.

 

Devotos fica com Deus, ai, ai,

Devotos fica com Deus,

Nesta hora de alegria!

Nesta hora de alegria ai, ai.

 

Deus lhe dê felicidade ai, ai,

Deus lhe dê felicidade,

Pro Senhor e a família ai, ai,

Pro senhor e a família ai, ai.

 

Senhor devoto, adeus, adeus ai, ai,

Nessa hora da benção ai, ai,

Se tiver alguém doente ai, ai,

Deus lhe dê a proteção ai, ai.

Despedindo-se da casa a folia continua sua jornada noite a fora.

Assim como os Três Reis Magos saíram de Belém e noticiaram o nascimento de Jesus ao mundo, os foliões anunciam de casa em casa o nascimento de Jesus, através de profecias. Esse movimento é chamado de jornada que tem início à meia noite do dia vinte e quatro de dezembro hora em que, segundo a tradição cristã, a Estrela D’alva foi avistada pelos Reis do Oriente, e encerra-se ao meio dia de seis de janeiro, dia em que os Três Reis do Oriente encontram o menino Jesus em Belém. A maioria das folias de Cachoeiro, a partir do dia seis de janeiro passam a integrar o ciclo de São Sebastião, e continuam sua jornada até o dia vinte de janeiro, dia do santo. Detalhe importante é que a continuidade da jornada é feita de dia, das seis horas da manhã às dezoito horas, sem a presença dos palhaços. Após o término da jornada é feito o arremate, que na maioria das folias de reis não possui data fixa para acontecer, apesar de a tradição estabelecer que seja feito no dia de São Sebastião.

Se durante a jornada uma família não abrir a porta de sua casa, a folia segue batendo marcha para outra casa sem criar problema, entretanto, ressaltam os mestres, não é de bom agouro recusar a benção das folias, a casa que recusa recebê-los passa por sete anos de azar.

Meu senhor dono de casa,

Nós cantamos pra vocês.

Abram o coração e a casa,

Aqui estão os Santos Reis.

 

Meu senhor já estou anunciando,

Conforme Jesus nasceu.

Nasceu numa manjedoura,

Perseguido por um judeu.

 

Os palhaços não podem passar do portão da casa. Agem como guardiões da folia. Se por acaso outra folia chegar, o palhaço vigilante tira a máscara e deita com as pernas e braços cruzados, este é o sinal que não há permissão para entrar, neste caso o mestre que está chegando deve pegar a máscara, entregá-la ao palhaço e pedir licença para entrar, licença esta que só será dada pelo mestre que está dentro da casa, só então os grupos poderão combinar a entrada do grupo que está chegando. Dentro de uma casa, só é permitida a apresentação de uma folia por vez.

Ao encerrar a bênção, a folia pede a bandeira de volta e sai da casa. Nesse momento os palhaços brincam com versos e saltiteios, pedindo esmolas. A cada esmola a brincadeira e os versos são mais animados e descontraídos.

 

A cachaça é feita da cana,

Da cana a cachaça é boa,

Quem bebe a cachaça,

O patrão, o empregado e a patroa.

 

Nego bebe a cachaça, depois fica rindo a toa,

A cachaça só é boa para quem sabe beber,

Bebe o pobre e bebe o rico,

Bebe pra a tristeza esquecer.

 

Adeus cachaça, adeus bebida mardita,

Que rouba a memória do rapaz e depois desacredita,

Fica o homem sem vergonha,

Pensando na jabirita.

 

Quem inventou a cachaça,

Teve uma ideia formosa,

No bebendo ficou tonto,

Viu a lua cor de rosa,

Deu o nome da mardita,

Aguardente milagrosa.

(Versos do Palhaço Preferido, Heberton da Costa)

 

Após esse momento a folia de reis segue sua jornada noite afora buscando outras casas que os recebam.

A maioria dos foliões cumpre a jornada por algum tipo de promessa para os “Santos Reis”, os “Três Reis Magos” que a tradição popular tornou santos.

As roupas utilizadas pelos foliões, chamadas de fardamento, variam de acordo com cada grupo e seus santos de devoção. Tradicionalmente a farda é composta por uma camisa de botão e calça comprida confeccionadas normalmente em cetim. As calças sempre possuem uma faixa lateral de outra cor. Tradicionalmente o fardamento é confeccionado nas cores dos presentes que os reis magos ofereceram a Jesus: amarelo, simbolizando o ouro, azul, simbolizando a mirra, e vermelho simbolizando o incenso.

A roupa do mestre é sempre diferente para que ele possa destacar-se dos demais. Um detalhe importante é que sobre a camisa ele utiliza sempre uma faixa com o nome da folia de reis.

Os palhaços usam roupas sempre espalhafatosas. O tradicional chitão colorido e florido era o tipo de tecido mais utilizado, atualmente o cetim nas cores vermelha e preta também são muito utilizados. Um detalhe importante da roupa do palhaço é a cruz bordada em tecido, uma na parte da frente (sobre o peito) e outra na capa que fica sobre as costas. Elas significam a proteção do grupo contra o mal.

A bandeira é o objeto mais sagrado da folia. Trata-se de um tecido sustentado por uma madeira na vertical e outra na horizontal que vai a frente do grupo. Sobre ela é obrigatória a presença da Sagrada Família. Algumas possuem outros santos de devoção ou fotografias de entes queridos. Normalmente são confeccionadas com cores fortes e adornadas com fitas coloridas e objetos natalinos. É comum que alguns moradores por onde a bandeira passa adicionem a ela algum objeto ou fita em sinal de devoção.

A coroa é uma espécie de chapéu que fica sobre a cabeça dos foliões. São enfeitadas com espelhos, guirlandas, fitas e objetos natalinos bem coloridos. São todas iguais, exceto a do mestre que destaca-se das demais.

A máscara do palhaço da folia de reis é confeccionada de couro de animal, normalmente de bode por ser mais peluda. A intenção da máscara é proteger a identidade do indivíduo que a utiliza e assustar a todos. Algumas possuem chifres e dentes de animais que são adornados por enfeites natalinos.

O cajado do palhaço de folia de reis é produzido a partir da madeira que é retirada do meio do mato. Em sua ponta possui uma escultura grotesca representando o diabo.

Após o dia vinte de janeiro, ao fim da jornada, o mestre oferece uma grande festa que é chamada de arremate, que tem como objetivo agradecer a Deus pela jornada, pelo ano de bênçãos e confirmar a promessa dos foliões. Para o arremate são convidados alguns grupos de folias que tem alguma relação de amizade e compadrio com o mestre.

O arremate consiste na entrega da máscara e das roupas do palhaço, das fardas e dos instrumentos dos foliões a Nossa Senhora. Esta entrega é feita em um altar preparado na casa do mestre, local designado como “a morada da bandeira”, este altar é arrumado por uma mulher que cuida da bandeira e do fardamento dos foliões. O local da morada da bandeira também pode ser uma casa de oração, normalmente de religião de matriz africana como a umbanda. Atualmente em função da grande quantidade de visitantes os arremates são realizados em locais públicos como, por exemplo, ginásios de esportes ou mesmo na rua.

Os arremates tradicionais duram um dia inteiro, começando na parte da manhã e encerrando-se a noite. Na parte da manhã o povo da rua começa a se ajuntar ao redor da casa do festeiro, o mestre ou o guardião da bandeira. Por volta do meio dia é servido o almoço para todos os visitantes, entretanto, o almoço dos foliões é servido em uma mesa com 12 lugares, representando a última ceia de Jesus com os apóstolos. Os palhaços comem fora da mesa.

Após o almoço todas as folias visitantes tocam em frente a um presépio improvisado. O arremate acontece em espaços públicos ou em uma casa de oração, frente a um cruzeiro com todos os personagens da Sagrada Família. A última folia a se apresentar é a da casa que faz sua entrega na seguinte ordem:

1º) Os palhaços, um de cada vez se arrastam até o altar (ou cruzeiro) pedindo perdão por seus pecados. Após esse momento, o mestre ao som de todos os instrumentos e cantando toadas que contam o martírio de Jesus passa a bandeira em volta dele por sete vezes. Nesse momento, o palhaço retira sua máscara e suas roupas deixando-as ao pé do cruzeiro. Dessa maneira estão perdoados todos os seus pecados.

2º) Os foliões, um de cada vez, dirigem-se até o cruzeiro, ajoelham-se pedindo perdão por seus pecados. O mestre, ao som dos demais instrumentos, passa a bandeira em volta do folião por sete vezes. Nesse momento o folião deixa seu instrumento e sua farda ao pé do cruzeiro, movimento que é feito por cada folião até que o último instrumento seja deixado ao pé do cruzeiro.

Após as entregas, já desprovidos dos fardamentos e com a missão cumprida os foliões dançam e cantam até a meia noite.

Ser mestre de folia de reis é uma missão, um chamado que só deverá ser deixado com a morte. Normalmente esse compromisso é passado de pai para filho ou mesmo a partir de uma promessa feita pelo folião. O mestre é um grande líder, inclusive espiritual. Muitas vezes essa liderança extrapola os limites da folia estendendo-se por toda a comunidade.

Ao mestre cabe a responsabilidade de dirigir o grupo, entoar profecias, desafiar outros mestres, convocar o grupo caso haja convite para apresentação e impor a disciplina. Deve ser um homem de caráter ilibado e ter pulso firme para manter o grupo sem “bagunceiros”. No mestre há de se encontrar além da criatividade, o espírito de liderança que manterá todo o grupo unido. Seus comandos são sempre feitos através de um apito. Em Cachoeiro de Itapemirim, embora algumas mulheres já sejam permitidas nos grupos, ainda nenhuma delas já assumiu as funções de mestra e nem de palhaça.

As informações sobre a folia de reis aqui transcritas nos foram passadas por Areno Francisco dos Santos, mestre da Folia de Reis Mensagem Divina de Jacu, distrito de Burarama, João Inácio (falecido) e Rogério Vieira Machado, mestres da Folia de Reis Estrela do Mar do bairro Zumbi, Wilson Diniz Cecon e Heberton da Costa mestre e palhaço da Folia de Reis Missão Divina de Burarama, José Paulino da Silva, palhaço da Folia de Reis Santa Ana do bairro Zumbi e Romilson da Conceição da Folia de Reis Estrela do Luar do bairro Zumbi.

Quem é a Missão Divina

Burarama é um distrito do município de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, que foi formado por imigrantes italianos, mas que é cercado por muitas antigas fazendas cafeeiras do período escravocrata e que fica próximo ao Quilombo Monte Alegre e a outras comunidades com expressiva população negra oriunda dessas fazendas. Dessa forma, a comunidade preservou muitas tradições culturais, tanto as de origem europeia como as de origem negra. Entre essas tradições está a folia de reis, manifestação que, desde tempos muito antigos, era bastante comum na região.

Um desses grupos que compõem a história local é a Folia de Reis Missão Divina, fundado por crianças que, no ciclo natalino, ao presenciar as jornadas dos grupos de folias de reis que passavam por sua comunidade, brincavam, imitando os foliões. Usavam latas e caixas de papelão como instrumentos musicais, máscaras e chapéus de jornal como fardamento, e saíam pelas ruas imitando as folias, até que seu período de férias escolares acabasse. Com o tempo e o incentivo dado às crianças, tanto por seus familiares como pela comunidade em geral, elas firmaram seu compromisso de fé aos Santos Reis Magos, e hoje, já homens e mulheres adultos, seguem suas jornadas pelas estradas rurais do interior capixaba. Vale ressaltar que muitos pais e avós dessas crianças haviam sido foliões na juventude, mas, já tendo cumprido suas promessas, aos poucos foram abandonando os grupos locais, os quais foram acabando gradativamente.

O Missão Divina foi oficialmente fundado em 1999, em Burarama, e se mantém até a atualidade cumprindo, todos os anos, o seu compromisso de fé e devoção aos Santos Reis. Isso ocorre no ciclo natalino – que vai de 24 de dezembro a 6 de janeiro – e também no ciclo de São Sebastião – que se inicia no dia 6 de janeiro e segue até o dia 20 do mesmo mês.

No ano de 1999, um grupo de crianças, alunos da Escola Estadual Wilson Resende, resolveu continuar essa brincadeira, que também foi levada para os intervalos das aulas na escola. Vendo isso, a professora de português Simone Marques e a secretária escolar Mariângela Grillo passaram a estimular essas crianças. Certo dia, o mestre de folia de reis Areno Francisco dos Santos, vendo essas crianças, também começou a incentivá-las, reunindo-se com elas fora do horário escolar, para ensinar as primeiras profecias. A única exigência que ele fazia é que as crianças tivessem compromisso com a escola e com o novo grupo que se iniciava. Surgia nesse momento a Folia de Reis de Burarama.

Naquele mesmo ano, os grupos de patrimônio imaterial de Cachoeiro de Itapemirim começavam a se articular e realizavam diversas reuniões, o que resultou, ao final do ano, na criação da Associação de Folclore de Cachoeiro de Itapemirim, da qual Moisés Ferreira Lima (o primeiro mestre do grupo de folia de Burarama) passou a participar, sempre acompanhado da secretária da escola Mariângela Grillo.

No ano seguinte, a Folia de Reis de Burarama foi convidada a participar do 50º Encontro Nacional de Folias de Reis de Muqui, porém havia um problema: o grupo ainda não tinha uniformes e instrumentos musicais. Mesmo assim, com instrumentos doados pelo mestre Areno e também emprestados por outras folias, o grupo participou do encontro. Por ser o único grupo composto somente por crianças – todos com 8 anos de idade, em média–, eles passaram a ser conhecidos como Folia de Reis Mirim de Burarama.

Em 2005, mestre Areno escolheu o folião Wilson Diniz Cecon – que naquele momento já tinha 15 anos de idade e ocupava o cargo de contramestre – para assumir a folia como mestre. Ele também foi incentivado por sua avó Maria do Carmo Diniz (mais conhecida como Dona Carminha, neta do falecido mestre Hipólito).

No ano de 2006 foi confeccionado o primeiro fardamento completo da folia, com camisa, calça e coroa. As próprias mães dos foliões – muitas delas filhas e netas de antigos foliões – é que confeccionaram essa indumentária inicial do grupo. A dificuldade em conseguir recursos para vestimentas e instrumentos chegou a desanimar os foliões, mas, aos poucos, as adversidades foram sendo dribladas. Foi naquele mesmo ano que o grupo, agora formado por adolescentes, começou a cumprir o ciclo natalino sozinho, sem a presença do mestre Areno, que, àquela altura, já havia cumprido sua missão como folião.

Em 2007, Dona Carminha, uma das maiores incentivadoras da folia, descobriu que estava com câncer. Foi quando seu neto, o mestre Wilson, agora com 17 anos de idade, fez uma promessa aos Santos Reis: cumpriria uma jornada de 7 anos com sua folia, pela cura de sua avó. Foi nesse momento que a folia foi rebatizada como Folia de Reis Missão Divina. Infelizmente, sua avó não resistiu à doença, mas ele manteve-se firme em sua promessa, um dever de vida desempenhado até hoje. Atualmente, a folia cumpre sua missão em memória a Dona Carminha e aos antigos foliões de Burarama, como o falecido mestre Hipólito.

Em 2010, graças a um projeto cultural feito pela Associação de Folclore de Cachoeiro (atual Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense), o grupo adquiriu novos instrumentos musicais e fardamentos, o que se repetiu mais tarde, no ano de 2018.

De 2011 a 2016, mestre Wilson – em parceria com a Associação e por meio do Ponto de Cultura do Folclore – realizou diversas ações de formação de novos foliões e de sanfoneiros na comunidade de Burarama, direcionadas especialmente a crianças e adolescentes (confira algumas imagens na seção Galeria de fotos). Os aprendizes de foliões receberam uma sólida formação, que ia das profecias à marcha das folias, passando pelas toadas. Muitos dos foliões da Missão Divina e dos componentes de outras folias de reis da região são oriundos dessas formações.

Atualmente a Folia de Reis Missão Divina é composta por componentes na faixa etária dos 30 anos, mas sempre conta com crianças e adolescentes em sua composição, num processo contínuo de renovação – renovação que acontece com a presença dos filhos, ainda bem pequenos, de seus mais “antigos” foliões.

Formação Original da Folia

Moisés Ferreira Lima
Mestre

Wilson Diniz Cecon
Contramestre

Gleydson Costa
Bandeireiro

Wendel Silva
Sanfoneiro

Josimar Adriano Silis
Caixeiro

Atila Barcellos
Caixeiro

Jeferson Eduardo
Pandeireiro

Alex Almeida Silva
Bumbeiro

Waguiner Silis
Requinteiro

Heberton Costa
Palhaço

Edineio Silis
Palhaço

Formação Atual da Folia

Wilson Diniz Cecon
Mestre

Luis Otavio
Sanfoneiro

Caio Morais Teixeira
Caixeiro

Heberti Oliveira da Cunha
Pandeireiro

Otavio Morais
Bumbeiro

Murilo Pinho
Requinteiro

João Pedro Diniz
Palhaço

Renan Souza
Bandeireiro

Wanderson Morais Bastos
Caixeiro

Nicolas Almeida Carvalho
Caixeiro

Ricardo de Almeida Simão
Caixeiro

Glayce Helen Tavares
Bumbeiro

Antônio Francisco
Violeiro

Heberton Costa
Palhaço

Leandro Feliciano Marçal
Violão

Yhago Pena Nascimento
Tarozeiro

Diversos produtos produzidos pela Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense e lançados nos últimos anos contém mais informações sobre a Folia de Reis Missão Divina. Você pode conferir tudo nos links abaixo:

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